17 de jan. de 2010

Fique querendo.

“Ah! Você quer? Pois fique querendo, porque querer e ficar esperando não fazem mal a ninguém.”
É um jeito de falar infantil, até malcriado – segundo as mães – mas encerra uma grande verdade. Todos sabemos que “querer não é poder”. Conseguir o que se quer depende de treinamento. Esperar é um aprendizado crucial: é assim que desenvolvemos aspectos essenciais da vida mental. Temos de aprender a distinguir, entre as necessidades, a que tem de ser atendidas já da que pode esperar. Quando nenês esperneamos por tudo que queremos. Com o tempo, distinguimos urgências urgentíssimas de outras que podemos protelar. Devagar, o ato de espernear vai sendo substituído por ensaios de pensar. Ninguém nasce pensando, eis algo que demanda treino.
Uma aula rápida e básica.
Não é um processo tão simples: são etapas que, ordenadas, resultam em percepções, avaliações, julgamentos e, finalmente, pensamentos.
A imagem do desejado ganha representação na nossa mente. Se eu quero uma bola e não a tenho à mão, vou encucar ate desistir ou conseguir. Enquanto a tenho na mente, vou matutando jeitos de consegui-la. É nessa espera que reside a importância do “ficar querendo”. Quando quero a bola e me dão a bola, não aprendo nada. Se tenho de estender o braço para alcançá-la, já preciso comparar a distancia com o comprimento do meu braço. Se nem a tenho à mão nem ao meu alcance, preciso lançar mão de outras aptidões. “Onde a bola costuma ser guardada? Quem a guarda? Quem mais joga bola?”
Essa cena é um belo exercício de pensar. Pensar se aprende pensando. Para desejar e realizar o desejo, temos de lançar mão de uma grande quantidade de conhecimentos. Não adianta querer jabuticaba na Arábia ou mesmo aqui, fora de época. Desde cedo vamos desenvolvendo muitas aptidões que nos levam a memorizar, classificar, distinguir, tudo para melhor vencer as dificuldades. Depois de aprender a esperar, o que não quer dizer parar de querer, nós, enquanto maquinas desejantes, temos de lembrar uma infinidade de “prazos de validade”. Guardar uma banana descascada na bolsa é bobagem.
Desejar, esperar, selecionar, optar, julgar e rever são aptidões mentais indispensáveis para uma harmônica relação de troca com o mundo. Enquanto esperamos e pensamos, estamos caminhando para a civilidade e para a autonomia.

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