12 de nov. de 2009

Não perguntei o nome deles.

Naquela época, eu me esforçava ao maximo para tentar não odiar, e me sentia mal sempre que me encontrava numa posição que poderia ser interpretada dessa maneira. Mas aprendi a não atacar aqueles que não fossem pessoalmente agressivos, e que só expressassem passivamente o que lhe tinha sido ensinado. Às vezes eu era grosseira, porque ser decente significava mostrar-se medroso e inconsciente de seu "lugar". Então, já que, quando se era decente, eles achavam que você estava com medo, eu era quase sempre grosseira.
A verdade machuca. A verdade inquieta. A verdade incomoda. A verdade passa a maior parte de nossa vida, nos perseguindo, pois quase sempre preferimos a comodidade da mentira. Por que a mentira? A mentira acomoda, a mentira tranquiliza, a mentira abstrai diferença - pode até nos igualar. Mas principalmente, a mentira conforta e cabe direitinho naquele espaço perpassado de ilusões e superficialidades que costumamos criar para acomodar nossa existência.
Verdade seja dita: ninguém gosta da verdade. Aceitamos, mas gostar, ninguém gosta. A verdade é um deserto árido e monotonamente plano onde quase sempre ficamos apenas com nós mesmo. Quer pior companhia?
Um dia desses sentei-me na praça e a verdade sentou-se ao meu lado. Fiquei a sós com ela, o vento frio e inóspito de meus piores temores acossando-me com aquelas lembranças intermináveis e tão subterrâneas que eu quase não me lembrava delas, e elas sendo embaralhadas e espalhadas diante de mim por mãos hábeis mas implacáveis, mãos invisíveis mas furiosas e incansáveis. Me sentia como um jogador mal sucedido, pois só recebia cartas ruins, um jogo infeliz em que entrei derrotado, lutava para não sair com mãos vazias e a cabeça cheia de culpas... Eu gritava muito por dentro, a noite chegava, o céu escurecendo com a revoada dos pombos que assustava em meu caminho, e a verdade ainda na minha frente, me hostilizava com seu silencio "gritante", junto com a implacabilidade de suas certezas incontornáveis. Encontrar forças, buscar por abrigo, é só isso que eu queria... A sobrevivência era uma das mais importantes prioridades na minha vida. A depressão e os "conflitos" em família fizeram com que eu temesse pela vida.
Me sentia inteiramente culpada de tudo. "Culpada! Culpada! Culpada!" Aprendi a ter medo de tudo. Minha auto confiança já tinha se perdido durante as tentativas de fuga pela cidade. Era em vão, atrás de coisa nenhuma. Derepente descobri que tinha medo de mim, sempre encontrava um escuro dentro de mim, eu mesma não sabia como escapar. Será que existe ou já existiu algum meio de fugir de nós mesmo? Sei que me tornei perita em sobrevivência, fazendo dela uma questão de tenacidade, de colocar a segurança acima de tudo. Por outro lado, viver era uma questão de paixão e de risco, de encontrar um objetivo importante e dedicar-se a ele. Fazendo o que fosse necessário para manter-se vivo e a salvo. Tendo crescido nesse ambiente, eu não fora capaz de perceber o que havia de errado nessa forma de pensar e agir. Talvez o objetivo da vida não fosse a sobrevivência.
Enquanto eu refletia sobre como seria possível proteger algo sem interromper o crescimento da vida dentro de mim. Percebi que viver em um mundo perigoso, um mundo de sofrimento, solidão e perdas fazia parte da vida. Minha família cultivava o medo. Então eu sempre encorajava esse sentimento, acreditando que, dessa maneira, garantiria a minha segurança. Passei a ver a vida com outros olhos, e percebi que a minha historia se resume a mim mesma e não existe ações espetaculares ou soluções simplistas no mundo real. Jamais me ocorreu a ideia de que o medo é o tipo errado de proteção. "Encontrar a proteção certa pode ser a primeira responsabilidade de uma pessoa que deseja fazer alguma coisa importante neste mundo" Existe sim um beco sem saída de nossas piores partes, pois todos temos mas não queremos. Encontramos a raiva que sentimos de nós mesmo ao ficarmos frente a frente com a nossa pequenez e mediocridade, as pequenas historias que muitas vezes encontramos destruindo outra pessoa ou meramente ficando feliz com a desgraça do outro - preferencialmente alguém melhor do que nós. O excesso de inquietações nos deixa vulneráveis. Não é possível seguir em frente sem se expor, sem um envolvimento, sem correr riscos, e muito menos sem criticas. Aqueles que querem promover mudanças terão que enfrentar decepções, perdas, até mesmo a zombaria. Se você está à frente de seu tempo, verá que as pessoas riem com a mesma frequencia com que aplaudem.
Procurar a proteção certa é um objetivo que deve estar dentro de nós e não nos separando do mundo. É algo muito mais relacionado à busca por um abrigo do que à busca por um esconderijo. No mundo real existem soluções e acomodações. Bom, pelo menos agora no mundo real ter medo é algo bem natural. E isso conforta.

2 comentários:

  1. nossa amor parabens disse tudo (y)
    fiquei sem palavras .. Jee .. passo poraqui bjoo Te amodoroooOo

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  2. Amei cara, você leva geito p/ isso
    Parabéns

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